terça-feira, outubro 27, 2009

.Felicidade esquecida.

Acho que o meu maior medo é esquecer das pessoas que eu amo.
Da voz da minha vó, do rosto da minha madrinha Lola.
Esquecer os conselhos que meu pai me deu, do cheiro do colo da minha mãe.
De momentos que foram só meus...
Tenho medo de deixar cair em algum buraco da memória o jeito que ele segurava as minhas mãos, como me olhava, de como eu me sentia quando estava junto de alguém.
De como abraçar fazia sentido, da última conversa, do último beijo.
Do primeiro beijo, do primeiro abraço e da primeira conversa.
E como os pesadelos não afetavam tanto assim quando eu tinha alguém ao acordar.
De como eu me senti sem ter pra onde ir quando a minha vó morreu.
Das mesmas piadas que eu e meu irmão sempre damos risadas. Da falta que ele me faz aqui em Curitiba. e eu muitas vezes esqueço isso.
Tenho medo de me perder no esquecimento, das pessoas não se lembrarem de mim, de momentos que tivemos.
Eu sou nostalgia.
Eu sempre sou notícia velha, jornal antigo, foto amarelada.
O meu coração tem medo de ser só isso. Medo de se guardar demais nestes detalhes que ninguém lembra, nesse afeto todo que perdemos dia a dia.
E se as lembranças são escolhas, eu fico aqui com as minhas, com os meus dias que acontecem de trás pra frente, olhando lá longe e aqui dentro tudo tão meu, no meu coração inquebrável que sempre marca a hora errada pra sentir.

quarta-feira, outubro 21, 2009

.isso de querer.

Só quero ser uma metade no mundo novamente.
Quero minha rotina, meus cachorros insuportáveis, meus amigos, minhas palavras roubadas, minhas frases desperdiçadas, quero fumar meu cigarro em paz, meus vestidos coloridos, minhas flores tatuadas, meu coração inquebrável, minhas fotos de família.
Cheirar as roupas da vovó e sentir um abraço invisível.
Acordar e saber que o despertador vai lembrar de nós.
Quero a minha cerveja, quero reler as minhas cartas antigas de amor.
Quero o bom dia da dona da banquinha em frente de casa.
Minhas músicas, minhas melodias.
Quero a pracinha no sábado a tarde, quero encontrar minhas amigas.
Quero meu livro, meus textos, minhas frases de impacto, meus e-mails de despedida.
Virar as costas num dia de sol e chover por dentro alagando o coração.
Quero cheiro de café, quero nuggets no jantar.
Sentir minhas paixões, meus medos, minhas dúvidas todas.
Quero esta solidão que ninguém rouba.
Quero ver os mesmos filmes de novo.
Dar risada de coisas idiotas, inventar minhas próprias coreografias.
Quero assistir minha tv de madrugada e reclamar da programação.
Quero reclamar. Quero contar histórias. Quero ouvir histórias.
Minhas flores na janela, minhas cores.
Meus perfumes, dançar no chuveiro e escovar os dentes andando pela casa.
Esfregar meus pés antes de dormir, acender a luz do corredor porque tenho medo de escuro.
Quero ser minha metade.
Sorrir para as crianças na rua, fazer minhas caretas.
Quero me olhar no espelho e me encontrar.
Quero cinema, quero cini framboesa, quero comprar coisas que vem com brindes de criança dentro.
Perder horas escrevendo as palavras que estão dentro de mim.
Quero sentir. Quero amar. Quero sim um grande amor.
Quero sentir falta, quero abraçar, dar um beijo antes de dormir.
Comer pizza até não aguentar mais, deitar no sofá com as pernas pra cima, imaginar minhas historinhas com final feliz.
Quero minhas festas, quero minhas fantasias, quero encontrar motivos pra ficar um pouco mais.
Quero a minha pressa, quero a minha vontade, a minha felicidade nas coisas pequenas.
Escrever bilhetes, mandar postais, mensagens.
Quero gastar todos os meus minutos com coisas que me façam bem. Quero lembrar das coisas bonitas. Quero as coisas bonitas e encontrar beleza nas que não parecem ser.
Quero ser. Quero meus super heróis, quero caminhar.
Quero me sentar numa mesa grande com pessoas bacanas.
Quero ser a minha metade sem precisar do mundo de ninguém.
Eu. minha. ser. amar. morrer de amor. sofrer. magoar. aprender a perdoar. viver.

segunda-feira, outubro 19, 2009

.felicidade roubada.

Eu tenho pesadelos recorrentes e na maioria deles eu estou perdendo alguém que eu amo.
Mas quando acordo e vejo que era só um sonho ruim e as coisas continuam no lugar, me dá um alívio estranho. Eu sei que não perdi nada, mas passo o dia todo com aquela sensação de perda.
E esta sensação de coração vazio é inevitável.
Eu não sei perder. Eu não sei viver com o coração vazio.
E pra alguém como eu, estes sentimentos tão efêmeros são quase mortais.
Coração quebra, e não há o que fazer.
Me arrasa.
Essa coisa de se sentir como um time que está com a partida perdida e tem que continuar a jogar.
Isso tudo de ter que recomeçar, varrer os cacos e limpar a casa outra vez.
Gostar e desgostar, amar e desamar, desarmar as armadilhas que nós mesmos plantamos pelo caminho.
Machucar os outros, se machucar.
Amor é a única divisão que se soma.
E quando ele acaba ou diminui ele leva inteiro, não metade.