sexta-feira, dezembro 18, 2009

.passa lá.

Às vezes eu tenho uma leve sensação de que o meu futuro foi roubado.
Ou algo está paralelo a mim, em uma dimensão aonde tudo poderia ter sido diferente.
E pensar que estas minhas escolhas do passado me trouxeram aqui sempre me faz pensar em quem eu seria além de tudo aquilo que eu quis ser.
E nesse sentido, pareço estar fora do compasso do que eu deveria ter feito.
Esses questionamentos todos, os julgamentos diários, a fogueira sempre armada na praça, pronta pra próxima inquisição sobre aquilo o que eu escolhi.
Eu por vezes queimo por dentro, por não saber se eu fui tão corajosa, se meus pais ainda vão ter orgulho de mim, se meu filho vai se espelhar no que eu faço, se serei nome de rua, ou se eu algum dia terei meu nome estampado na história.
Se no final de tudo eu vou fechar os olhos sozinha, se os meus estarão lá do outro lado para me buscar.
O que eu fiz, o que eu deixei pra trás, as pessoas pra quem eu jamais disse "perdão" "te amo" "adeus".
E nesse quintal de pedra que é a parte do meu coração, me desfaço destas mágoas e me despeço do que já foi.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

.sobre tudo, sobra nada.

Eu tava há dias precisando escrever.
Não sobre algo específico, mas porque isto é tão parte de mim que quando eu fico longe das minhas palavras por muito tempo, eu refaço frases na minha cabeça o dia todo.
Eu sou uma pessoa feita de sílabas, métrica, rima.
A minha vida é sempre feita de receber postais, de sentir saudades das pessoas que atravessaram as fronteiras pra outra cidade ou outro mundo.
É mudar a estação do rádio ou do ano.
A minha vida é feita de grandes amores e pés no chão.
É o bilhete deixado do lado da cama de manhã pra acordar o sentimento todos os dias.
É esperar na porta e se despedir na janela.
É apostar alto, jogar tudo pro alto e recomeçar todos os dias.
Chorar de alegria ou de tristeza, tanto faz. O aprendizado vem na medida que a gente se doa.
Olhar pra cima, mas não tropeçar. E saber que cair faz parte, mas é sempre bom ter amor pra se levantar.
Eu sou o álbum de fotografias antigas, o sentido oposto do caminho.
Aquela que ama os poucos, mas bons.
Que prefere fechar os olhos e guardar imagens na memória e aquela pessoa que quer ficar um pouco mais acordada pra aproveitar tudo um pouco mais.
Dormir e acordar ao lado, assistir seriados de mãos dadas, almoço de família, jantar a dois.
Conselhos de mãe, afago do pai. Minhas saudades todas, minha vontade do futuro todo cheio de novidades embaladas pra presente.
Minha sala de estar, minhas neuras sobre a vida divididas com as minhas tragadas longas no cigarro.
Aquelas coisas todas sem resposta, as dúvidas, os anseios, as perguntas que eu nunca soube fazer, as frases de impacto e aquelas que jamais saem do jeito que eu imaginei.
Meus amores tão intensos. Minha caixinha de correios sempre cheia de olás e adeus.
E é tudo meu. Cada "te amo" cada abraço, cada segredo contado e cada pecado escondido em nós dois.
Não há perdão sem pecado. Não há amor sem perdão.
Todos os passos que damos juntos, todas as cores que só enxergamos em par.
Cada particularidade, cada pequena mania, cada abraço infinito e cada beijo com gosto de coca-cola e chocolate, é tudo meu.
É a minha vida, é o bom dia, sou eu. Cada pedaço meu que eu largo displicente pelo mundo.
Cabeça de vento. Coração nas mãos. Pés descalços na grama. O corpo procurando o calor do outro antes de suspirar e dormir, meu.
E é o barulho, a bagunça, o tititi desvairado dos dias, as noites de boemia e as manhãs de ressaca também. É a minha vida, tudo isso é meu.
É a calçada suja, o lado encardido e sem sono e o café meio amargo pra acordar meio zumbi de manhã.
Minha vida é aquele livro que nunca se termina de ler.
É meu.
E isso tudo é sobre ser.