domingo, agosto 12, 2007
Contando historinhas [Os objetos inanimados da Bic]
Hoje eu pensei seriamente em escrever um conto. Queria fazer uma história que não fosse um roteiro de curta ou de videoclip, como geralmente eu faço.
Queria uma história que começasse com "era uma vez" e terminasse com "...e foram felizes para sempre...". Mas não tenho muita prática em escrever finais felizes, isso é fato.
Nas minhas duas últimas historinhas criadas pela minha mente doentia, matei um cofre de porquinho e levei um pinguim de geladeira a cometer suicídio por causa da pinguinha que se apaixonou por um ímã de espantalho. Meus amigos me chamam de serial killer de objetos inanimados.
Mas a historinha que eu queria criar hoje era na verdade uma cena. Uma só cena mais ou menos assim:
"Ele chegava na casa dela no meio da madrugada úmida, ela lhe abria a porta, passava um café, ele sentava em silêncio no sofá olhando para as rachaduras de infiltração na parede da casa antiga onde ela morava. Enquanto a água fervia, ela pensava há quantos anos aquela cena se repetia.
Ele chegava de surpresa, morava em outra cidade e nos raros momentos em que se encontravam, agiam como se nunca tivessem se separado, como se o tempo parasse enquanto eles estavam separados. Ele chegava, eles passavam boas horas juntos, matavam toda a saudade. De manhã ele ia embora sem dizer adeus.
Ele nunca dizia adeus, talvez por dar a impressão de que logo estaria de volta à sua porta.
Mas nesta noite, ao servir o café e observar a maneira que ele sempre assoprava a bebida antes de levar à boca, o jeito que ele batia a ponta do cigarro na mesa antes de acender, o modo como ele a olhava como se ainda fossem as mesmas crianças do colégio onde se conheceram, ela sentiu um estranho afeto por ele.
Pensou que naquele momento ao lhe observar, eles eram tão um do outro como quando tinham dez anos. Uma sensação de incrível conforto a envolveu, ele a puxou para perto dele, e em seus ombros ela repousou. Sentiam da mesma maneira naquele segundo. Sentiam que o segundo de amor entre os dois era eterno, por mais que ele partisse sem se despedir pela manhã e ela seguiria sua rotina de segunda feira, e ele da mesma forma.
E de fato, pela manhã ele foi embora sem dizer adeus. Ele sabia que ia voltar para o lugar aonde ele mais encontrava amor, e ela sabia que ele ia voltar para amá-la novamente. Assim eles eram felizes para sempre, à sua maneira."
Bom, eu particularmente gosto das minhas historinhas de pinguins, cofres de porquinho, bichinhos imaginários que criam vida na minha estante e na minha imaginação, mas às vezes é interessante fazer histórias quase felizes de pessoas quase reais.
quarta-feira, agosto 01, 2007
Resposta [As cartas perdidas da Bic]
"Escrever cartas de amor sem destinatário. Esperar uma resposta mesmo assim."
É estranho como de repente as coisas que você mais acreditava no mundo desmoronam na sua cabeça. Aos 7 você descobre que Papai Noel não existe, aos 9 descobre que seus pais não têm um casamento tão perfeito como nos desenhos que fazia no colégio, aos 15 descobre que aquele professor por quem você é apaixonada é casado e nunca vai te dar bola, aos 18 você tem certeza que não é tão legal assim ser maior de idade. Aos 20, descobre que os mesmos problemas que você tinha com 7 ainda existem, só que agora são maiores e mais difíceis de se resolver.
As coisas não mudam muito. Mudar as pessoas não é fácil. Mudar a si mesmo é ter que olhar para dentro e ver todos os defeitos e fraquezas que possuímos. É tarefa dolorida e difícil de encarar. Ver que já fez alguém chorar, que já falou sem pensar, que não teve pena do outro e que não soube perdoar.
Somos seres medrosos, é fato. Sentimos medo de nos envolver, temos medo de decepcionar os pais, os filhos, os amigos. Sentimos medo de decepcionar a nós mesmos, chegar ao fim da vida e ver que tudo o que vivemos foi vão e sem sentido. Sentimos medo de ser.
Quem nunca acreditou nas palavras de alguém e depois deu de cara com a porta? Quem nunca achou que um amor era pra sempre levante a mão!
Quem nunca se apaixonou perdidamente por alguém e depois achou aquela pessoa uma mala sem alça? Quem nunca ouviu ou disse "te amo" sem fazer sentido algum aquela frase?
E se, aos 7, acreditávamos que o papai noel existia, é porque ele era real. Em algum momento foi real. Então quer dizer que quando nos iludimos, em algum momento aquilo tudo existiu?
Sim, creio eu. Se somos controlados pela nossa mente, quem somos nós pra julgar as nossas ilusões? Por mais que um amor jamais tenha saído de dentro da sua cabeça, você o criou. É válido e puro da mesma maneira.
O problema é acordar de manhã e ver que nada daquilo era exatamente como pensávamos. Esse "nada" sempre fode. Esse vazio depois da ilusão é o que machuca. Você superestimar seus sentimentos e depois perceber que, assim como o papai noel, eles só estão na nossa mente.
É assim mesmo. Aquele garoto do colégio ainda existe, o papai noel ainda está no shopping tirando fotos com crianças, o professor perfeito ainda é alvo de olhares platonicamente apaixonados das alunas.
E eu continuo dançando com meus pensamentos. Escrevendo cartas que nunca mandei, me decepcionando ao descobrir que o Papai Noel não existe e que o menino bonito da escola nem sabe que meus pensamentos são dele.
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