quinta-feira, setembro 27, 2007

Sonhando os sonhos da Bic




Era tarde quando ela olhou pela janela. Lá fora ela via as nuvens coloridas dançando no céu e as sombras tentando imitá-las no chão. A noite já empurrava o sol para o Oriente, ela estava ali a esperar sem saber exatamente o que.

Caminhou pelo campo verde cheio de florzinhas coloridas, mas ela gostava mais do capim dourado que estava iluminando a colina. Pisou abrindo pequenas clareiras entre seus pés. Quando percebeu, estava dentro de uma rosa. Lá dentro ela viu como elas, tão pequenininhas, fazem esforço pra exalar perfume. E suas cores matematicamente pensadas para envolver os amantes, os bichinhos que gostam de mel, os poetas e os compositores de belas canções sobre rosas.

Mais um passo e ela estava de volta a sua janela. Os sons dentro de casa pareciam mais densos agora. As melodias incríveis que tomavam conta de seu apartamento. Ela esperava ele ali, entre os fás, lás e dós que bailavam na sua sala.

Ela abriu sua porta e viu uma estrada. Correu sem saber por que. Corria mais e mais, mas parecia que todos eram mais velozes e ela nunca alcançaria seu lugar. Deu um impulso, saiu voando. "Olhem! Eu sei voar!" Quando deu por si, estava no chão de volta. Caiu sem asas em cima de um lago de gelatina. Não havia peixes naquela água. Só pequenos patos azul-metálico sorriam para ela. "Mas patos não sorriem, pensou ela!" E antes de pensar, eles não estavam mais lá.

Ela queria saber aonde ele estaria. Aquele para quem ela teria histórias pra contar, aquele que a ensinaria aonde são feitos os raios e trovões, que explicaria daonde surgem os sons, aquele que a faria voar... Por que não pode vê-lo agora?

Ela caminhou debaixo de árvores enormes formadas de vários tons de folhas verdes, às vezes marrons, outras horas eram amarelas.
Pareciam pinturas, e se chegasse bem perto, talvez pudesse encostar na tinta fresca. Se sentia pequena diante daquelas árvores grandes como os prédios que via na tv, mas sabia que o tamanho não importava, pois se pensasse em ser grande, poderia pegar as flores mais altas da copa, sem nem levantar o calcanhar.

Sentou num banquinho feito de pequenos gravetos, mas forte o suficiente pra aguentar o peso dos elefantes que moravam ali perto. Foi então que ele sentou ao seu lado. Ela se esforçava para ver seu rosto, mas o sol que batia entre as folhas marrons refletia nele agora. O menino sem rosto pegou na sua mão. Ela esperou até que ele a puxasse para seus braços e ali, entre os troncos grandes e o lago de gelatina, enquanto os bichinhos de marshmallow espionavam a cena, ele a beijou.

Então o pavor tomou conta da menina. "Por favor, Sr. sonho! Deixe-me ficar aqui! Não me desperte, não me desperte...não me desper...não...me...des..."

TRIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMM

Então a garota acordou para mais um dia entre as buzinas de carro e concreto dos prédios. Ainda lembrou de olhar pra cima e ver as nuvens coloridas, mas o dia nublado deixou tudo cinza. Ela lavou a louça suja na pia, arrumou as flores na mesinha da sala e esperou... esperou... esperou...

quinta-feira, setembro 20, 2007

[Bic e as pequenas coisas de quando era pequena]


Hoje de manhã, voltando para a casa (?!) depois de uma noite com sonhos curtos e bons, passei por uma feira na rua debaixo.

Pensei que se eu for velha, quero ir na feira com minha sacolinha de tecido, porque a feira tem todo aquele charme de ser, tudo tão fresquinho, os cheiros das frutas invadindo o nariz ainda poluído do bar da noite anterior.

As maçãs tão bonitas, as bolachas amanteigadas, as pêras...o gosto delas quando dissolvem na boca. Senti vontade de ligar e dizer que as pêras estavam lindas ali, fazendo contraste com as laranjas ao lado, mas contive o impulso. Já pensou? Cena patética seria eu ligando pra falar sobre pêras.

Seria mais ou menos como no exemplo da noite anterior, quando o menino ensaia pra chegar perto da garota mais bonita da festinha e na hora H de puxar o assunto, escapa aquela frase ridícula e sem sentido e a menina ri, o menino é tomado pela pela vergonha e sai à procura de uma pá, pra cavar um buraco e sair dali.

Mas enfim, só de sentir vontade de ligar já é foda, portanto vou mudar de assunto discretamente e voltar às frutas.

Esses dias eu fui na casa da minha tia. Depois do almoço ela e minha mãe foram pro jardim plantar mais e mais flores por ali. Eu que já estava desconcentrada do Saramago , desisti da leitura e fui até onde elas estavam. Senti uma vontade incrível de pisar na grama. Tirei os chinelos, peguei várias daquelas florzinhas que você assopra e elas parecem fadas bailando no ar.
Fui até o pé de amoras. Estava cheio de amoras pelos galhos todos. Nossa, que sensação, senti o gosto da minha infância, ele estava ali o tempo todo e eu não notei, ou o deixei de lado por algum motivo.

Comi quantas amoras pude aguentar, os dedos manchados de vermelho, sentei-me embaixo dela e pensei em como eu era feliz naquele momento, só eu e as amoras. Eu e as florzinhas de fadas, e outras roxinhas ali no canto, eu e as flores coloridas da minha tia, eu e mais ninguém.
Acho que foi com isso que sonhei hoje. De qualquer maneira foi um sonho bom.





ps: Falando de Feira e de Fruta, foi impossível evitar a comparação cretina:

sábado, setembro 15, 2007

Bic com açúcar [You're my favorite flavor]


"Ela sempre esbarra nas pessoas e tropeça nas pedrinhas.
Ele caminha pisando na grama onde não tem plaquinha.
Ela carrega seus livros e seus sonhos entre seus braços.
Ele chega e limpa seu all star no tapetinho de "home sweet home" na entrada de casa.
Ela canta uma canção que "é perfeita no seu tom" e morria de vergonha de cantar pra ele.
Ele atravessa a rua fora da faixa e ela ralha com ele.
Ela sempre ralha com ele com um sorriso no canto da boca, como se perdoasse mesmo antes de brigar.
Ele chega em casa seguindo o cheiro do café que invade as escadas.
Ela perfuma a sala antes dele chegar.
Ele gosta mesmo é do cheiro da pele dela.
Ela sente o perfume dele no travesseiro e dorme.
Ele fuma seu cigarro na janela enquanto olha a dança engraçada que a fumaça faz antes de dissipar.
Ela acha lindo o jeitinho dele dançar.
Ele sempre a beija antes de dormir.
Ela beija ele com cuidado pra não o acordar."

Escrevi este texto para o meu fotolog, achei digno postar aqui também, pois ele fala de uma maneira singela desse amor "chá com açúcar mascavo" como disse o Victor nos comentários do post anterior. Eu penso que finalmente quero viver um amor sem pretensões de ser tema de música da novela das 8. Esse amor cotidiano e claro, amor de gostar nas coisas banais, de dividir a xícara de chá, de fazer pequenas surpresas, caminhar de tarde no parque e deixar a noite alcançar os dois sem nem notarem a presença das estrelas.

Meu amigo definiu bem o que ele quer esses dias, quando disse pra mim que procura uma "namorada brother". Eu entendi bem o que ele quis dizer com isso, e conclui que também quero um companheiro pra dividir meus anseios e esquentar meus pés nos dias frios, mas de encarar um boteco sem aquele estigma de casal que já sai propenso a um dos dois fechar a cara meia noite e irem embora brigando à uma da manhã.

Quero alguém do meu lado que possa se divertir sem se isolar comigo, que dê risada quando o filme que os dois alugaram é ruim de doer, que tope acabar num programa de índio com os amigos, mas leve isso tudo com humor...quero poder brigar feio e depois fazer as pazes, porque a reconciliação sempre tem um gostinho apimentado...quero alguém de boa, bem de boa, mas que não seja um banana...

É, eu sei, to ficando cada vez mais exigente quando eu peço pra ter ao meu lado alguém tão simples e descomplicado assim.



ps: se alguém tiver, favor me passe o telefone do vocalista gato do The Films:

domingo, setembro 09, 2007

A feliz nostalgia da Bic


Tudo começou quando eu tava tentando encontrar uma foto pra ilustrar este post. Eu queria uma foto de casal que não fosse clichê. Mas casais geralmente são clichês, mesmo quando fogem do convencional.

O Henrique sempre reclama que as minhas histórias são sarcásticas e a maioria delas fala de um amor quase anti-amor. Outras tantas falam de saudade. Numa das histórias que contei sobre minha avó, eu disse que era dela quem eu sentia mais saudades. Depois que ela morreu, percebi que hoje eu consigo lembrar dela mais feliz do que quando ela estava presa naquele corpo inerte e sem memória.

No meio desta nostalgia toda, encontrei muitas vezes essas duas palavras: amor e saudade.
Eu já amei alguém que me dava saudade todos os dias. Ele estava do outro lado do mundo. Quando o amor acabou (ou quase isso) eu comecei a sentir saudades de ter pra quem contar as coisas banais do meu dia. "Estranho é o amor quando já não está". O amor não existia mais quando a saudade virou um costume. Porém, o Henrique e a Raquel vivem sentindo uma saudade que une mais ainda eles dois.

"A diferença entre o remédio e o veneno é a dose." Talvez seja isso. Saudade bem medida é um tempero saudável.

Hoje eu estava pensando do que eu provavelmente vou sentir saudades daqui a algum tempo. Acho que de quase tudo. Dos meus amores impossíveis até as minhas paixões mais reais. Dos meus amigos, de tomar café na cantina com o Leo e o Joseph, de dar risada até a barriga doer com a Camila e a Hellen. Da franjinha e das dancinhas da Ci e da Bia, dos cabelos cacheados e os conselhos sensatos da Ana. Das minhas frenéticas Amanda, Lari e Tali. Do sorriso do John. Da minha designer favorita Gabi. Da risada da Isa. Do humor inteligente do Urso. O mau-humor do Cello. Do colo da minha dinda Cal. Dos meus fanfas.

Dos gostos, das músicas, das noites de rock, dos porres, das tardes na biblioteca da Unicenp, das coisas engraçadas que a minha mãe faz, dos conselhos do meu pai, dos olhos azuis da Vó Zayde e de tudo o que ela é na minha vida. Do meu irmão Henrique (e este me dá saudade o tempo todo)
Vou sentir saudades de todas as pessoas que eu tenho neste momento, todas as coisas, tudo o que eu sempre vivo tão intensa e impulsivamente.

É, aniversário chegando causa essas nostalgias mesmo. Mas eu posso terminar meu texto de hoje do jeito que o Henrique mais gosta: e a Bic foi feliz pra sempre até o último momento deste "pra sempre".

quarta-feira, setembro 05, 2007

[Bole um título pra descrever a amizade] - mion


"Aimona arazol no test o ok/ li tdu kkkk"



"A vida imita a arte". Realmente. Eu conheço as histórias mencionadas dos seres inanimados, pinguins e afins da bic. Sei o quanto elas são sarcasticamente divertidas, ironias a respeito do amor (né?) e tal. E um dia eu me atrevi a desafia-la a um texto feliz ou quase. Ela topou. E me surpreendeu com uma história tão verossímil que parece a minha.

A bic é assim. Surpreende sempre. Quando eu achei que ela não pararia com aquele cigarro maldito, ela me vem com um "parei de fumar faz um mês!" diretamente da lan house maldita.
Outra vez, ao sair de uma cena "tragicômica" em uma loja de pratas e anéis, o passatempo do momento foi observar uma pobre e linda árvore na rua XV. 5 minutos a observar, inertes ao nosso redor total, as flores daquela arte desapercebida aos olhos urgentes dos pedestres malucos da rua...das FLORES, ora essa. Rua da FLOR, vc para e olha a FLOR da rua...DA FLOR, ué...gente afobada. credo.

Sempre precisei dos conselhos impulsivos dela, mesmo eu sendo o irmão mais analítico. Era preciso uma certa dose de coragem pra dar a idéia maior, pra eu poder analisar a partir daquilo. Dar e receber ajuda, faz quase dez anos e sempre estamos assim. Mas quando a gente não consegue sozinho... partimos pros profissionais, né gente...

...alguém aí pensou "psicólogo"? nah...nada disso. Profissionais de dar conselhos, a margem dos livros honestos, os brilhantes mestres do humor nacional e (principalmente) internacional: são eles, Os livros de auto-ajuda. HaH! Quem nunca leu alguma coisa de algum, só pra ter certeza que "ninguem roubou seu queijo, ele continua na gavetinha da brastemp faz 3 dias já, ta na hora de ir no BIG comprar mais..", ou que você não é artista nessa tal "arte de ser feliz/pai rico/bem sucedido/líder/amoros...É!" ou até mesmo as "99 maneiras de dizer eu te amo, usando uma caneta mágica e atóxica no corpo e bexigas, com margaridas ao lado do aeroporto (fácil)"... essa é a nossa fonte, nosso pão de cada crise, é por aí que vamos cumprir nosso plano de ficar ricos e produzir livros pra garotada complexada anos 90/doismil que vem aí.

Eles vão ficar piores que nós, pode ter certeza.
Enquanto isso, nós vamos ficar a rir das pataquadas da inclusão digital, essa beleza que vem vindo ultimamente, nos tempos de hoje.Mais do que nunca, em londres, ou em uma casa com flores na janela. Nós e todomundo que for da nossa família. hahhahahahaha

Essa é uma história de bic e eu. Irmãos por opção. O termo que define é esse aí mesmo.