quarta-feira, dezembro 31, 2008

.ano novo?.




.tentei escrever começar várias vezes um texto sobre o meu ano.
.vivi tantas coisas por aqui que eu nem saberia como começar.
.cheguei exatamente no ponto onde comecei. outro lugar, mas a mesma sensação de estar procurando algo que ainda não encontrei.
.amei. cometi erros. me enganei quanto ao caráter de algumas pessoas. levei alguns bons amigos nesta grande caminhada. a maioria absoluta daqueles para quem dei meu coração, fechou este ano ao meu lado.
.meus amores continuaram nas folhinhas de 2008. outros virão. dos que passaram, nem sei mais se eu realmente quero que continuem neste novo ano.
.tenho uma pessoa que pretendo levar para caminhar comigo pela estrada de tijolos amarelos de 2009, mas caminhar juntos é uma questão de dois, não só um.
.eu caminhei muitas vezes sozinha neste ano. talvez eu tenha descoberto que sou minha melhor companheira.
.mudei de casa, mudei de cores, mudei de par, mas não levei nada além de mim mesma neste ano.
.não ganhei na loteria, ganhei muitas coisas boas materialmente falando.
.ganhei mais um ano ao lado da minha avó. espero aprender a conviver com as diferenças e semelhanças da minha mãe em 2009.
.ganhei os aprendizados que meu pai sempre me oferece.
.tenho um coração inquebrável na pele. tenho flores que nunca murcham no meu ombro.
.mas meu outro coração, este não saiu ileso deste ano. ele viveu intensamente a saborosa dor dos sentimentos todos que vivi.
.para este ano, o que tenho?
.malas feitas no solado da porta. de muitas portas. nem tiro mais as roupas das malas, porque eu não sei bem aonde quero ir.
.quero caminhar sozinha por outras calçadas, quero a minha companhia em outros ares. quero cantar outras músicas com outras pessoas.
.se eu vou? se eu volto? não sei.
.neste ano vou me permitir receber os presentes que a vida oferece.
.me entreguei demais em 2008. agora eu quero o meu olhar em outras janelas. quero ter tudo aquilo que eu ofereci e não recebi novamente.
.em 2009 sigo fechada pra balanço, confesso.
.quero cantar minhas canções no chuveiro. quero amanhecer com a certeza que se eu tiver comigo e mais alguns bons amigos, se eu puder telefonar pros meus pais, se eu puder ouvir os conselhos dos meus tios, se eu tiver a paz da minha avó comigo, vou ficar bem.
.em 2009 eu vou ficar bem. meus fantasmas já não me assombram mais como antes.
.se eu sofri? todos nós sofremos, todos caimos do cavalo, todo mundo tem problemas de grana as vezes. mas eu ganhei uma coisa importante neste ano: minhas próprias cores.
.e é assim que vou terminar meu ano. colorindo quem quiser os meus tons e deixando o resto todo em branco, sem sentir pelo que eu não tive.
.o blog recebeu uma atenção que eu realmente não esperava neste ano.
.mas quero dizer aos meus nobres visitantes que neste ano novo terei muitos tantos sentimentos a divir com cada um aqui. pois no momento em que eu clico no"publicar postagem", estes sentimentos deixam de ter dona e viram a história de cada um que lê.
.levo meu coração que marca a hora errada nesta nova caminhada. e o resto? C'est fini.
.um beijo da garota que agora bate os sapatos vermelhos pra encontrar logo seu lar.

domingo, dezembro 28, 2008

[sem sintonia]


.as pilhas do meu rádio acabaram. e eu não ouço mais você.

domingo, dezembro 21, 2008

[caminhando em par]


Estava andando sozinha pela estrada de tijolos amarelos.
Foi aí que encontei meu coração em alguém.
E ele encontrou o dele em mim.
Era o mesmo, de fato. Mas de uma certa maneira, eram dois com medo de quebrar.
Convidei para caminhar comigo. Mas o relógio dele marcava a hora adiantada sempre.
O tempo dele era mais curto e severo que o meu tempo.
E eu queria mesmo era o coração dele no meu.
Tão platonico, tão parecidos, tantas coincidencias tolas que nos envolveram de maneira estranha e assustadora.
É tão bom poder sentir que alguém nos faz procurar nas canções um motivo banal para escrever frases sem sentido no muro pelas ruas onde esta pessoa passa.
Escrevemos as mesmas frases, ao mesmo tempo, em muros diferentes.
Temos a mesma pele na outra pele, mesmo sem encostar.
Usamos as mesmas falas de filmes que ninguém assiste mais.
Lemos as nossas mágoas no mesmo livro. Passamos pela mesma calçada de tijolos amarelos.
Mas algo ainda nos deixa paralelos, seguindo juntos sem tocar.
Ele é meu coelho branco, que sigo sem cessar. Meu homem de lata que encontrou o coração em mim. Minha gravura pendurada na parede com um só prego a nos segurar. E é com ele que vou caminhar. Ele e eu, pelas nossas histórias tão irreais. Com coincidencias tão reais. Mas a gente prefere as nossas coisas inventadas.

domingo, dezembro 14, 2008

[desatando os nós]

Se escrevo hoje é para que entenda em que parte do acaso me deixou partir.
Assim, sem estar na hora certa, o ponteiro já aponta ao nosso caso sem se despedir.
Se é você que não tem um momento só teu, se sou eu que estou nas horas longe de ti.
Já foi, foi há tanto tempo atrás que agora as horas que batem não marcam mais as nossas.
Tudo agora é tão seu e tão meu, tudo tão duro e forte, agora é só você e só eu.
Nada de tão épico assim, só dois novamente.
Uma xícara de chá, meia porção de comida num prato só na mesa.
Tua cadeira escondida debaixo da toalha manchada de cinzas.
Ah, as cinzas. Elas não voam mais em par pela sua janela.
Do alto dela, ela se ilumina só até o chão.
Tudo tão vão, tão vil, tão são.
Teu armário ainda tem um vazio. Minhas roupas não se misturam mais ao teu cheiro de manhã.
Somos só dois, mais metade do que imaginamos antes de ser par.
Sem lágrimas. O sal secou no travesseiro há um tempo atrás.
Sem mais.
Teu telefone eu nunca decorei, não consigo me ligar aos teus números tão exatos.
Foi o exato que nos deixou céticos, sei bem.
Não lembro mais como era o teu olhar pra mim, não lembro dos teus olhos.
Sei como era te olhar, mas não consigo me recordar das nossas coisas pequenas.
Se a tua dor foi grande, não sei.
Não ganhamos a capa de livro algum. Nosso romance não preencheu mais que dez páginas escritas com letras borradas.
Se eu já escrevi algo sobre nós, não foi sobre nós o que ficou.
Somos dois agora. Eu e as minhas palavras confusas, você com tuas melodias tão certas.
Eu com dois corações, intactos, intocáveis.
E desatamos os nós. Agora somos nós. Eis que chegamos a um fim não trágico, não dramático.
Sem emoções. Não respondo as tuas canções de amor. Não escuto mais no escuro as ruas me chamando até a tua casa.
Se eu nunca te respondi,
é porque só hoje eu entendi que você, não teu acaso, foi quem me deixou partir.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

[a mulher da minha vida]


Nunca escrevi um texto bonito sobre a minha vó Zayde. Acho que é porque eu não encontraria palavras tão bonitas quanto seus olhos azuis.
Tive muita sorte por ser tão amada pelas minhas avós. Minhas três marias: Lola, Diva e Zayde.
Ontem fui visitá-la no hospital e constatei que do alto dos seus 93 anos, ela é a mais bela mulher que já vi.
Ela está bem, saudável, corada, esperta. Lembra de datas de aniversários, nomes de colegas da escola para meninas que frequentou na infância.
Apesar de lembrar de quase tudo na sua vida, nunca a vi reclamar de nada, ter mágoas ou ressentimentos aparentes.
Só a vi chorar poucas vezes, e em todas essas vezes eu senti vontade de roubar as lágrimas de seus olhos azuis para que as águas não deixassem sua vista embaçada e seu coração doendo.
Ela é a pessoa mais justa que eu já conheci. Firme sem ser ríspida. Feliz ao seu modo, fazendo as pequenas coisas que ainda lhe cabem, como ouvir a empregada ler as manchetes do jornal para não perdera noção dos dias.
Sentei ao seu lado no quarto do hospital aonde ela faz exames de rotina, ela me deu a mão. Beijou minha testa e sorriu com uma aura tão bonita que meus olhos chegaram a deixar escapar uma lágrima.
Agradeci tanto por Deus ter me dado ela como avó. Por ela ter saúde, por ela me amar tanto.
Disse a ela:
- Vó, não conta pra ninguém. Mas eu te amo mais do que eu amo qualquer pessoa no mundo.
Ela sorriu, me beijou as mãos e disse:
- Não conte pro seu pai, mas você sempre foi minha favorita.
E eu disse:
- Eu vou pra França.
- Passear?
- Morar,vó.
Ela sorriu novamente com os olhos, me apertou junto ao ombro e falou:
- Você tem a vida toda para voar, meu bem. Espere eu bater as asas para fazer isto. Preciso de você por perto agora.
Voltei para a casa com os olhos ardendo e as minhas lágrimas acompanhando a chuva.
Chorei de felicidade por eu ser tão importante para alguém que já teve tantas pessoas chegando e partindo do seu portão de embarque.
Chorei e senti medo porque eu não sei deixar ela ir também. E por ter entendido que ela ainda está aqui por mim, e eu por ela.
Somos duas partes de um mesmo sentimento chamado amor.
Minha vó e eu de mãos dadas na nossa ciranda imaginária, rodando juntas e uma pedindo para a outra esperar um pouco mais.
Eu a amo tanto, tanto. E ela também.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

[vá por mim]

.tava tudo indo tão bem, não sei por que voltei.

.não provoco os outros. o ato de provocar acontece dentro de nós.
.duas pessoas são capazes de fazer a mesma coisa e a gente sentir diferente o que elas nos causaram. .já fui os dois tipos de pessoa. o que causa e o que não causa algum sentimento.
.não comparo dores. .não comparo amores. .não compro nada que não seja à vista.
.gosto da primeira vista. .pontos causam irritação em alguns.
.para mim eles nem sempre representam ponto final.
.nunca esperei a hora certa pras coisas. .não sei esperar.
.não sei errar sem tentar. .eu tento até o fim.
.descobri que o fim na maioria das vezes não depende só de nós.
.muitas pessoas causam um sentimento de provocação dentro de mim.
.poucas eu amei. .a maioria absoluta delas eu deixei pra trás.
.eu sempre me esqueço de datas de aniversários. .não faço muita questão de buscar em mim o que provoca os outros.
.odeio erros de português. .não admito falhas de caráter. .perdoei traições. .não perdoei desprezo.
.falta de consideração me sufoca a alma. .odeio quando esquecem meu aniversário.
.odeio o mau uso de vírgulas. .sou eloquente. .odeio não usar mais trema. .choro quando sou deixada pra trás.
.amo meus cachorros mais do que eu pensava. .quero um lar e uma família.
.não prezo ou sinto carinho por 76% da minha família.
.eu me arrependo. .sou capaz de cometer o mesmo erro duas vezes.
.já me senti não amável. .já me senti sozinha. .já fui considerada estranha. .já me senti estranha.
.sou péssima com números. .sou péssima para lidar com situações extremas.
.sou extremista. .sou ciumenta. .já chorei por amor. .já chorei pela falta dele.
.minha vó diz que sou altiva. .choro de saudades da minha vó até hoje.
.não tenho irmãos. .já fui mãe de um garoto de 5 anos por 4 meses. .ainda choro de saudades dele.
.adoro minha impulsividade. .tenho medo de escuro. tenho medo de me envolver, mas dificilmente penso nisso quando me envolvo.
.já tive amores platonicos. .amei sem amar. .já amei de menos. .já amei demais.
.tenho um coração novo em folha. .terei quantos eu precisar.
.gosto de amor. .gosto de amar.

terça-feira, novembro 25, 2008

[tua]


Minha verdade está mais nua que a tua.
Não há como não se despir antes de se despedir.
Veste tua roupa depois de fazer umas mentiras.
Deixa elas no lençol vazio e vai.
Quais são os nós que nos prendem?
Nós nem somos tão nós dois assim.
Vai, antes que exista começo e fim.
Sai assim e deixa de ser teu
Tudo aquilo o que roubou de mim.

segunda-feira, novembro 24, 2008

[a menor calçada de paris]


Hoje não vou escrever muito sobre mim, mas sim sobre a cena do filme que me fez muito sentido quando eu fiquei deste lado do mundo e outra pessoa partiu. Porém, eu passei a entender como era estar na pele de quem vai.
E como estou indo agora, o Alberge Espanhol tem as falas perfeitas neste momento.

" (...)
Sabia que seria a última vez que nos beijávamos, então pensei no nosso primeiro beijo.
Lembro que foi na Rue d'orchampt.
Não sei por que escolhemos a menor calçada de Paris.
Houve muita coisa entre os dois beijos
Atravessamos muitas ruas juntos.
Muitos trajetos sinuosos.
Para terminar aqui. Hoje. Sem ela.
Acabou nas ruas onde parisienses nunca vão.
Eu era um estrangeiro entre os estrangeiros.
Por que estava lá? Eu não sabia.
Nunca soube por que estava aonde estava. Deve ser típico..."

Esta cena resume muito bem o meu sentimento de agora. Entre tantos beijos, tantas ruas, estarei sozinha. Este é meu momento de seguir pelas calçadas de outros lugares do mundo, sem saber direito o que me leva até lá, mas com o sentimento de que não é mais hora de ficar.

sexta-feira, novembro 14, 2008

[ a posse do eu ]


“Eu” deveria ser a primeira palavra a saltar da boca dos homens.
“Meu” deveria ser a segunda.
O “Teu” deveria ser o “Meu”.
Mas não é!
E “Eu”,
Não sou “Teu”.

Apesar de indivisível “Eu”,
Encontro o “Teu” para somar.
E toda soma se divide.

Há um finito de “Nós” em mim,
Entrelaçados “Eu”.
Carregando o “Meu” que não é “Teu”.
O quão difícil é ser fiel a mim,
O sendo a ti?

Eis o “Seu” lado.
Eis o “Meu” oposto e também.
Veja a soma de nossa possessividade,
E a sombra do outro,
Que reflete em “Nós”.

quarta-feira, novembro 12, 2008

[o coração do homem de lata]



.meu coração quebrou, não consegui colar.
.tatuei então um novo no lugar.

.agora ele sangra fora do meu peito.

"Agora eu sei que eu tenho um coração, porque ele está quebrado." (homem de lata, mágico de oz)

terça-feira, novembro 04, 2008

[Correios em greve]

Eu sei, escrevi tantas cartas pra você e não mandei nenhuma. Ensaiei as falas que eu diria pra você no dia em que te encontrasse, mas nunca mais disse palavra alguma. Deixei meus textos todos pelo chão junto com os pedaços de coisas que lembravam você.
Eu sei, não errei. Meu erro talvez foi ter dado passos largos pra longe de você. Ou ter deixado que a distância de uma calçada atravessasse nós dois.
Entre tantas coisas banais que dissemos, já existiu um "Eu te amo". Foi banal também. Mudei. Mudei o lado da calçada, mudei o cabelo, mudei a cor do meu coração pra um desbotado quase rosa. Pintei as paredes, tingi meus medos, ouvi músicas repetidas vezes e não encontrei uma frase sequer pra te contar o que eu sentia.
Pintei as unhas de vermelho, repiquei o cabelo, fritei nuggets no óleo quente, caminhei pelo centro com as mãos vazias. Tatuei o corpo, escovei os dentes e suspirei antes de dormir.
Esperei cartões postais que nunca chegaram, pendurei quadros nas paredes que eram vazias. Atravessei as noites vazias e você nunca voltou. Talvez nunca tenha ido. Talvez nunca tenha existido além dos meus planos.
Chorei vendo filmes tristes, e em alguns felizes também.
O certo é que a distancia nunca foi maior do que o nosso afastamento. Seja por falta de amor ou por ele ter sido tão banal quanto contar meu dia.
Contei meus dias de par em par pra passar mais rápido. Passaram rápido demais, nem deu tempo de te entregar alguma carta de amor.

segunda-feira, novembro 03, 2008

[.]

Quero as minhas cores todas de volta. Todas elas que foram roubadas.
Caminhando hoje de peito aberto, sangrando um vermelho desbotado. Caminhando rápido demais pra rever todas as coisas que vou deixar pra trás. Todas as ruas que eu não vou mais passar, nem sozinha, nem de mãos dadas.
Me despedindo dos fantasmas da sala de estar. Tirando meu monstro do armário e o colocando na mala, escrevendo minha autobiografia sem as partes que não me cabem mais.
Sem despedidas, nem adeus. Nem perdão, nem pecado algum vai me acompanhar.
Perdi um pedaço de mim nesta estrada. Cavei com os próprios dedos uma pequenina cova aonde ficou o meu coração seco e mudo.
Não levo meus erros. Não levo minhas incertezas. Elas não caberiam na bagagem.
Estou leve. Deixei as calçadas pra trás. Vou lá longe buscar as minhas cores roubadas.
Eu já perdi demais. Quero tudo de volta.
Minhas palavras, meu som, meu gosto menos amargo, quero de volta os meus passos largos, quero acordar de volta.
As coisas que eu perdi estavam dentro de mim, todas. E eu as perdi outra vez. Era um amor meio diferente que eu senti. Quero de volta. Quero tudo. Hoje eu perdi, amanhã eu ganho o mundo.

quinta-feira, outubro 09, 2008

[Idas e vindas da vida da Bic]

Outubro não vai ser um mês fácil de atravessar.
Alguns dos meus melhores amigos estão partindo para o outro lado do mundo.
Despedidas nunca são fáceis, sei bem disso.
E cada um deles, com sua particularidade, vai fazer falta de alguma maneira na minha vida.
Eu já enfrentei tantas idas e vindas, já me despedi de tantos amigos, tantos amores. Mas ainda não aprendi a dizer adeus de uma maneira menos dolorida.
Em breve serei eu a ir, deixar as coisas aqui esperando que ainda sejam boas quando eu voltar. Mas hoje sou eu que fico no corredor de embarque com lágrimas nos olhos outra vez.
Eu fujo da maioria dessas despedidas, não por amar menos, mas é mais fácil não ver o partir destas pessoas tão queridas...
O mundo é grande demais quando as melhores pessoas dele estão do outro lado.
Não escrevo isso chorando, mas sei que em algum momento eu vou tentar ligar e vou lembrar que um prefixo de outro país me separa dessas pessoas.
Quero que essa despedida seja como um breve "até logo", cheio de lembranças boas e risadas, pois sei que o ônus de crescer é deixar algumas das melhores fases das nossas vidas, em busca de algo maior e, às vezes, assustador.
Deixo aqui o meu carinho por todos os que vão atrás dos sonhos e das saudades, que são o preço deles.
Um dia, caros amigos, nos encontramos em algum lugar deste planeta. Mas no coração nos veremos todos os dias...
Um beijo especial aos viajantes Nono, Marcel e Hellen. Amo muito vocês, com toda a sinceridade que há em mim. Até breve...

"Encontros e Despedidas (Maria Rita)

Mande notícias do mundo de lá

Diz quem fica

Me dê um abraço, venha me apertar

Tô chegando

Coisa que gosto é poder partir

Sem ter planos

Melhor ainda é poder voltar

Quando quero

Todos os dias é um vai-e-vem

A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar

Tem gente que vai pra nunca mais

Tem gente que vem e quer voltar

Tem gente que vai e quer ficar

Tem gente que veio só olhar

Tem gente a sorrir e a chorar

E assim, chegar e partir

São só dois lados

Da mesma viagem

O trem que chega

É o mesmo trem da partida

A hora do encontro

É também despedida

A plataforma dessa estação

É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar

É a vida..."

terça-feira, julho 08, 2008

[Lembranças da Bic na estante]

Sempre achei que ia encontrar o amor da minha vida numa livraria.
Talvez pelo grande tempo que eu passsava dentro de uma, ou pelo próprio charme clichê de começar um romance entre os livros.
Fazia muito tempo que eu não mergulhava neles com tempo sobrando. Por muito tempo eu pensei que talvez a minha própria história estivesse dentro deles.
Coloquei meus fones de ouvido, que como diz uma comunidade de orkut "nos separam do mundo medíocre ao nosso redor", sentei-me no chão e me dei conta de que eu era mais feliz naquela melancolia meio nerd que me trazia todos os dias para aquela livraria.
Eu caminhava tanto pelo centro, reparava nas árvores escondidas no concreto. O cheiro da feirinha, das lanchonetes de chinês, lojas de 1,99 aonde eu comprei alguns dos meus companheiros de quarto mais legais, como o Cabeça e grama e o Pinguim de geladeira que a Nono derrubou no chão, e o meu Cofre de Porquinho que eu nunca tive coragem de quebrar.
Faz tempo que eu não ando de mãos dadas por estes lugares incríveis. E nem de mãos vazias. Não caminho mais como antes. Nunca mais fui na Casa China, nem na Rua da Cidadania, nem andei sem rumo na XV, na biblioteca pública, não mais... Nunca mais me sentei debaixo de alguma árvore na Praça da Espanha em dia de Feira de Antiguidades. As únicas antiguidades que tenho visto são as minhas próprias lembranças.
Era tão bom ter tempo sobrando, o problema era nunca ter dinheiro no bolso para satisfazer minhas vontades quase fúteis, então fui trabalhar.
Hoje que eu trabalho para ter grana, não tenho tempo de fazer as coisas que me deixavam mais feliz, como ir numa livraria e me perder entre as estantes.
Faz muito tempo que não tiro tempo pra mim. Faz tempo que eu não tenho um boneco tosco de gesso em casa. Faz tempo que não me procuro mais nas capas dos livros. Faz tempo que não encontro algum disco legal.
Hoje reparei, com meus fones de ouvido, que as pessoas se isolaram em seus mundos musicais, cada um na sua, com sua própria vitrolinha de bolso, como diz a minha avó. Eu ali, entre duas escadas rolantes, pessoas indo e vindo, sem ter um lugar só seu.
Meu lugar era aquela livraria aonde eu me escondia do mundo com o meu musical próprio, assistindo as pessoas e lendo livros.
Nunca achei que eu fosse encontrar o amor da minha vida numa livraria.
Na verdade eu sempre procurei por mim ali.

segunda-feira, junho 16, 2008

[Quintal de pedra]


A casa onde nasci está prestes a ser demolida. Junto com ela, boa parte da minha história vai cair em meio aos tijolos.
É a sina das casas velhas. E das infâncias felizes também.
Minha infância foi cercada de expedições pelo jardim. Ela tinha um quintal imenso e cada primo tinha uma árvore que era só sua. A minha era a macieira, pois eu era a única menina e ela era a mais fácil de subir.
Meu primo caçula sempre reclamou da sua árvore. Ele ficou com o limoeiro que, cheio de espinhos, não permitia a sua escalada.
Aquele quintal era incrível. Tinha a piscina que nunca era cheia, ela era de pedra, em formato de 8. Rasa, mas eu nunca sequer nadei nela. Somente nas folhas das árvores que invariavelmente caiam lá dentro. Ao lado havia o galinheiro da minha vó, onde todas as manhãs o galo perdia a hora de cantar. Tinha também o balanço que foi retirado após uma cicatriz eterna na testa do meu primo.
No pé de ameixa foi construída a casa da árvore. Sim, eu tive uma casa da árvore e ela tinha até um alçapão e uma escadinha pra subir.
Tinha o gramado onde minha vó corava as roupas todas as manhãs. Deixava o varal colorido e brigava com o vento que derrubava as roupas limpas no chão.
Tudo naquela casa lembra a minha avó.
O cheiro de café que marcava as cinco horas se espalhava por toda a vizinhança.
As festinhas de aniversário e os bolos de morango que ela preparava.
Minha casa foi o grande feito da minha vó. Ela foi feliz e infeliz lá. Ela viveu seus momentos de maior amor e de maior solidão naqueles corredores enormes.
A primeira vez que sonhei com a minha avó após a sua morte, eu a vi na cozinha daquela casa. Ela estava linda, estava realmente linda. E feliz como não me lembrava de tê-la visto em vida.
Já falei em algum texto sobre a mente dela ter ficado na casa, pois logo após a sua venda, e a mudança para a casa da minha tia, uma doença cruel e implacável roubou as suas lembranças todas.
Sinto uma falta enorme de abrir a janela e ver o pé de abacate que insistia em invadir o meu quarto. O salgueiro chorão onde a minha tia estudava. O platanus onde meu pai fez uma declaração de amor à minha mãe com canivete.
Todas aquelas árvores que contavam um pouco da história da minha família.
Como primeira providencia, logo após a compra, o novo proprietário tratou de cortar todas as árvores e cimentar a grama falhada e velha do jardim. Tapou a piscina e derrubou o galinheiro.
Cortou pela raiz um pouco de todos que moravam lá. Cimentou boa parte das lembranças da minha infância.
A casa que tinha vida própria se perdeu no tempo.
E a minha avó ainda mora na parte bonita dela.

sábado, junho 07, 2008

[O amor é filme]


"eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama"

É estar passando o tempo sem perceber que a maioria absoluta das coisas que a gente repara quando ama não passam de coisas que a gente só percebe porque ama.
É a espera pelo relógio dar mais uma volta pra encontrar. É sala de cinema, é cama.
É karma, e dharma, é dilema. Amor é aquele poema.
É achar que as cada momento tem trilha sonora, é ver que a sessão da tarde passa a dois que são um agora na comédia romântica.
É um romance que transforma os monólogos tristes em diálogo, até quando as falas parecem repetidamente clichês.
Amor é um clichê bonito de se ver.
É um musical bem ensaiado, são as pessoas dançando na rua por você.
É aquele beijo no portão como nos velhos tempos, namorinho de portão.
É segurar a mão.
É matinê, é sessão de gala, é aquela novela. O amor é o mocinho daquela novela.
É coisa bela, é desejo. Amor é bem mais que uma cena bem enquadrada.
É o movimento que se repete coreografado, filmado nos olhinhos brilhantes de amar.
Ô coisinha fofa que é o amor. É aquela dor, é o documentário na tv.
É atravessar o salão em sentidos contrários, indo pro mesmo lugar.
E mesmo que a gente não espere mais, mesmo que seja uma espera inesperada de se olhar, mesmo que este momento seja o beijo na cena mais importante do cinema, quando acende a luz e a sessão acaba, sempre vai ter um casal a levantar de mãos dadas.

sexta-feira, maio 23, 2008

[Virando o homem de lata]

(imagem disponível no www.corbis.com)
Acho que não sei mais escrever. Não como antes, que as palavras apareciam na minha frente em forma de frases inteiras e eu dificilmente editava meus textos.
É, acho que a rotina finalmente me sufocou. O concreto dos prédios secou o meu mundo de imaginação.
É dificil sonhar com contas pra pagar e trabalho batendo todos os dias no relógio. Pensei em escrever para o meu pai esses dias... Pensei em contar que chorei esses dias porque não me lembrava mais do rosto de uma das mulheres mais importantes da minha vida que morreu há poucos anos. Pensei em escrever sobre todas as bolinhas de sabão que eu não fiz mais.
Pensei também nos meus medos e no texto que eu fiquei de escrever sobre um sonho que tive onde as pessoas eram pequenininhas e viviam debaixo da terra carregando pedras. Tinha uma árvore na ponta do mundo, onde coloquei um pneu e me balancei pra enxergar as casinhas lá embaixo.
Do sonho eu me lembro, mas nem me recordo do porquê de não ter escrito.
Eu nunca fui fã de rotina. Sempre gostei de andar pela calçada tentanto encontrar algo que nunca tinha olhado antes.
E justo eu, hoje estou aqui tentando escrever sobre o cotidiano que sempre me fascinou, pois quando eu tinha mais tempo de olhar para os meus sonhos, as palavras vinham mais facilmente. Acho às vezes que não as mereço mais. Deixei a rotina roubar o meu mundo fantástico, deixei de escrever sobre os sentimentos que me moviam, deixei o ar cinzento me acostumar a não ver o céu.
Queria mesmo escrever sobre meu pai. Ele que me presenteou com tantos livros, que me ensinou sobre a métrica e a rima, que contou inúmeras vezes sobre Fernando Pessoa e tantos outros autores bacanas, e eu nunca publiquei nada sobre ele. Talvez por ter permitido que nossas enormes diferenças se transformassem num abismo literário. Queria poder fazer um texto todo sobre a nossa convivência, mas hoje não. Ainda não é hora de falar sobre culpas e agradecimentos, nem dizer o quanto ele é importante para eu continuar a escrever.
Não quero me transformar no homem de lata da foto, não quero ter que andar por aí procurando meu coração. Gosto dele, gosto até quando ele quebra, pois faz me sentir viva e me deixa escrever sobre meus sentimentos.
Não quero deixar que a rotina me tire minhas palavras, não quero esquecer do rosto das pessoas que mais me fizeram sentido na vida, quero conseguir escrever sobre meu pai.
Quero todos os meus sonhos coloridos de volta, quero quebrar o concreto em volta deles e voltar a falar sobre os meus sentimentos.