sexta-feira, dezembro 12, 2008

[a mulher da minha vida]


Nunca escrevi um texto bonito sobre a minha vó Zayde. Acho que é porque eu não encontraria palavras tão bonitas quanto seus olhos azuis.
Tive muita sorte por ser tão amada pelas minhas avós. Minhas três marias: Lola, Diva e Zayde.
Ontem fui visitá-la no hospital e constatei que do alto dos seus 93 anos, ela é a mais bela mulher que já vi.
Ela está bem, saudável, corada, esperta. Lembra de datas de aniversários, nomes de colegas da escola para meninas que frequentou na infância.
Apesar de lembrar de quase tudo na sua vida, nunca a vi reclamar de nada, ter mágoas ou ressentimentos aparentes.
Só a vi chorar poucas vezes, e em todas essas vezes eu senti vontade de roubar as lágrimas de seus olhos azuis para que as águas não deixassem sua vista embaçada e seu coração doendo.
Ela é a pessoa mais justa que eu já conheci. Firme sem ser ríspida. Feliz ao seu modo, fazendo as pequenas coisas que ainda lhe cabem, como ouvir a empregada ler as manchetes do jornal para não perdera noção dos dias.
Sentei ao seu lado no quarto do hospital aonde ela faz exames de rotina, ela me deu a mão. Beijou minha testa e sorriu com uma aura tão bonita que meus olhos chegaram a deixar escapar uma lágrima.
Agradeci tanto por Deus ter me dado ela como avó. Por ela ter saúde, por ela me amar tanto.
Disse a ela:
- Vó, não conta pra ninguém. Mas eu te amo mais do que eu amo qualquer pessoa no mundo.
Ela sorriu, me beijou as mãos e disse:
- Não conte pro seu pai, mas você sempre foi minha favorita.
E eu disse:
- Eu vou pra França.
- Passear?
- Morar,vó.
Ela sorriu novamente com os olhos, me apertou junto ao ombro e falou:
- Você tem a vida toda para voar, meu bem. Espere eu bater as asas para fazer isto. Preciso de você por perto agora.
Voltei para a casa com os olhos ardendo e as minhas lágrimas acompanhando a chuva.
Chorei de felicidade por eu ser tão importante para alguém que já teve tantas pessoas chegando e partindo do seu portão de embarque.
Chorei e senti medo porque eu não sei deixar ela ir também. E por ter entendido que ela ainda está aqui por mim, e eu por ela.
Somos duas partes de um mesmo sentimento chamado amor.
Minha vó e eu de mãos dadas na nossa ciranda imaginária, rodando juntas e uma pedindo para a outra esperar um pouco mais.
Eu a amo tanto, tanto. E ela também.

2 comentários:

Hein, rique disse...

vocês são lindas. e isso tb. lê pra ela.

Hein, rique disse...

vocês são lindas. e isso tb. lê pra ela.