quarta-feira, março 25, 2009
[corações em liquidação]
Por vezes eu tentei entender as coisas que não fazem mais sentido pra mim e um dia fizeram parte.
É dificil deixar, abandonar certos pensamentos que se acostumam com a gente.
Existem até palavras que eu não sei mais usar.
"é fase, mas eu me canso."
As vezes a gente cansa de procurar. As vezes não consigo abandonar a mim mesma.
Essas raízes todas que eu tenho que podar, essas coisas todas que tenho que aprender a deixar pra lá.
É aquela sensação que tenho desde criança, que sempre estou dois passos atrás de algo que nem sei o que é.
Talvez não exista este algo.
Talvez eu ainda não tenha encontrado meus passos no meio de tantos devaneios que insisto em não abandonar.
Me acostumei com eles, eles comigo.
Músicas repetidas, frases de efeito, livros me esperando na estante.
Tanta coisa me esperando e eu aqui, sem saber esperar.
Já me cansei de metades.
Já me cansei de me deixar pra lá.
Dentro desta lata toda eu ainda tenho um coração descompassado, batendo dois segundos depois das coisas.
Não é que eu não sinta, mas eu só sinto o que já não me faz mais sentido, porque é o que realmente me faz falta.
[sem radar]
Estava hoje no Hospital Militar visitando a minha avó, que está em observação. Do corredor eu podia ouvir alguns ruídos, alguns gritos meio abafados, mas que não pareciam ser de dor.
Minha vó então comentou comigo que os gritos eram da garota do quarto ao lado, que havia sofrido um derrame durante o parto e a família havia a deixado no hospital, sem nunca mais a visitar, há quatro meses.
Chamei o enfermeiro e perguntei mais sobre a menina que estava lá.
Ele me perguntou se eu gostaria de conhecê-la, pois ela ficava feliz quando recebia alguém.
Fui acompanhada do enfermeiro e quando cheguei no quarto, confesso que fiquei um pouco chocada com a cena.
Ela tinha os braços e as pernas atrofiados, apesar da fisioterapia que ela recebia no hospital. A boca já possuía poucos dentes e ela não conseguia falar por causa do derrame, meio de lado, o enfermeiro a puxou para seus braços e disse:
- Lu, tem visita! É uma moça da sua idade! Veja, ela veio te ver!
O enfermeiro me contou pouco mais sobre ela.
Que seu nome é Luciana, 28 anos, casada e mãe de três filhos. No parto do terceiro, teve complicações que afetaram seriamente seu cérebro. Desde então ela não saiu mais da cama e nem de seu mundo solitário e silencioso, que era quebrado somente pelo seu lamento cantado aos gritos, que invadiam os corredores daquele hospital.
A família não a visitava nunca, ela já havia recebido alta há alguns meses e ninguém veio buscar.
Desde então ela ficou ali, sendo mantida pelo hospital e pelos funcionários que a "adotaram".
Ela ali só tem o carinho incontestável dos enfermeiros, inclusive do Sargento da Silva, que foi quem me levou até o quarto e demonstra um afeto e dedicação ímpares por aquela moça.
Saí daquele quarto visivelmente abalada, pensando "que mundo a Lu tem em volta dela, se ela mal consegue olhar pela pequena janela do quarto?"
"Como uma família desiste de alguém assim, sem olhar pra trás?"
"Em que mundo ela se encontra agora, alma presa, sufocando a dor pelos gritos esquecidos..."
Ela poderia ser eu, quase a mesma idade. E quem sabe ela era eu antes do derrame. Quem sabe eu seja um pouco dela ali naquele quarto, solitária, esquecida.
Queria naquele momento poder trazê-la ao meu mundo, mostrar que as coisas aqui continuam belas e coloridas. Que ainda há árvores bonitas e prédios altos, mas que ainda temos pessoas dobrando a esquina e sendo deixadas para trás.
Mas ela não sabe disso. Nem eu. Ela só sabe dos enfermeiros que a tratam com amor, e que alguém de vez em quando entra naquele quarto para quebrar a solidão por alguns instantes e depois partir novamente.
E eu que não sei de tantas coisas, não sei da minha própria solidão, fico imaginando se ela consegue compreender a solidão incompreensível na qual ela vive.
Queria só abraçá-la e que ela soubesse que ela não está só. Que alguém neste mundo escreveu algumas linhas para contar a história da moça solitária que mudou um pouco a alma de outra pessoa....
quinta-feira, março 19, 2009
segunda-feira, março 16, 2009
[céu em chamas]
.sinto falta das cores do céu.
.aquelas que a gente enxerga através das lentes e só repara no parque depois de algumas cervejas e uma ótima conversa.
.agora, falando com você eu percebo que aí do outro lado você sente a mesma vontade de estar em outro lugar, como eu.
.já te agradeci por você ter bebido o primeiro café comigo, sentada na mesa com um pseudo famoso enquanto tentávamos a primeira telepatia pra fazer ele sumir dali?.
.por dividir um coração meio machucado e provar por 2+2 que eu não estou sozinha nem quando não nos falamos.
.juntamos os cacos nas medidas do possível.
.mas eu sei e você sabe que o céu ainda é o mesmo.
.e o mundo vai girar pra gente ficar no mesmo lado sempre.
.não importa quantas despedidas sem adeus que eu te mande sem querer.
.estamos aqui e aí e talvez lá também.
.me mostrou as cores quando eu precisei.
.te deixarei menos cinza quando você desbotar.
.meus postais sem destinatário sempre chegam até você.
.minha caixa de correios sempre estará pronta pra te receber.
[volta aqui]
.e rouba o meu coração só mais uma vez.
ou duas.
ou sempre.
.só depende da gente se querer.
mais um pouco.
ou muito.
ou sempre.
.mal me lembrava como era te ver na pracinha.
.andar por aí ouvindo tuas musiquinhas mais redondas.
.pela tua cidade cheia de ângulos nus.
.só você enxerga as canções nessa métrica perfeita.
me pega como par pra dançar.
a grama ainda é um bom lugar.
.vem. me leva. me puxa pra você.
.só quero ser uma boa companhia.
.ter a tua letra na minha melodia.
.quadradinhos.
terça-feira, março 10, 2009
[bons ventos]
Ainda não inventaram sensação melhor que reencontrar alguém que faz bem.
Existem coisas que o tempo muda, como alguns amigos de colégio que hoje mal se cumprimentam.
Outras, só amadurecem com o tempo.
Entre um passeio e outro, pausa no filme, beijinho, lembrar de coisas que fizeram parte da adolescência muito feliz, beijinho e pensar que hoje somos adultos que precisam mesmo encontrar tempo na agenda para poder dar beijinho.
Essas mudanças fizeram parte de conseguir manter uma cumplicidade de anos, de mãos dadas enquanto o tempo nos torna mais distantes das coisas que nos aproximaram.
Ainda temos trilha sonora pra nós dois.
Mas hoje o despertador toca mais cedo pra nos levar pra casa.
Que bons ventos sempre soprem a favor de nós. Que boas músicas sempre encerrem nossas noites. Até outro dia chegar.
quinta-feira, março 05, 2009
[até o fim raiar]
[hoje]
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