sexta-feira, maio 29, 2009
[a rotina das horas]
Ele chegou em casa no mesmo horário de sempre. A sua rotina de repetir pequenos gestos desde o elevador, até a forma que olhava as correspondencias em cima da mesa. Tirava os sapatos enquanto esquentava a água para fazer café.
Era tudo igual. Fumava seu cigarro na varanda, enquanto pensava nas coisas que aconteceram no dia.
Ela cumpria seus pequenos rituais diários. Abria as janelas ao acordar, pulava da cama enquanto corria até a cozinha para esquentar o leite.
Ele entrava no banheiro, fazia a barba no banho, ajeitava o tapete do box com os pés, enquanto puxava a toalha para deixá-la reta no cabide.
Ela, aos pulos, escolhia alguma roupa cantarolando pelo apartamento.
Ele escolhia algum dos seus relógios para marcar seu atraso de sempre.
Ela se sentava no mesmo lugar de sempre na mesa, brincava com a colher do chá enquanto juntava com os dedos os farelos da toalha.
Ela implicava com farelos.
Ele implicava com os pingos na pia.
Ele dobrava as cobertas e guardava a favorita dela.
Ela subia na cama e abria a coberta novamente, para se esconder embaixo dela enquanto o puxava para um beijo.
Ela contava os detalhes de suas histórias, ele reparava mais nos detalhes que ela.
Ela fazia pequenas flores com os canudinhos e deixava em cima da mesa para ele se lembrar que ela esteve ali.
Ele guardava todas as pequenas bobagens que ela falava.
Ele demorava no banho, ela reclamava.
Ela demorava com o secador, ele reclamava.
Ele segurava forte as suas mãos entre os dedos dela.
Ela corria pela casa novamente, usando a blusa grande dele, batendo as mangas uma na outra e ria.
As horas se passavam e ela cochilava ao som de alguma música que invadia o apartamento.
Ele a via dormir como se assistisse a um sonho dentro do outro.
Ela o assistia dormir e pensava no quanto era sortuda por ter as cores dele ali ao lado dela, no travesseiro mais duro, porque ela gostava mais do outro.
Ela o abraçava e abraçava o mundo.
Ele a abraçava e sentia todo o amor que ela poderia ter em si, e ela o dividia com ele sem egoísmo ou medo.
A rotina deve ser igual para os dois agora, mas só metade.
A saudade virou rotina também.
E o relógio ainda chama os dois no mesmo horário.
quinta-feira, maio 28, 2009
[matando]
Queria eu te entregar o último pretexto pra nunca mais te encontrar...
E eu ainda não sei explicar as mesmas coisas de antes.
E te dar a última chance de te ver não foi tempo suficiente pra mim, nem pra você.
E perceber as perdas nisso tudo.
E se hoje estou aqui com esse sentimento todo inutilizado... é por não saber como te contar absolutamente nada além de mim, além de tudo o que você sabe sobre mim...
Porque talvez eu não tenha sido aquilo tudo o que você sonhou... ou porque tentei esquecer das nossas coisas todas na hora errada.
Ou porque a química passageira com outra garotinha babaca e bonitinha e bobinha qualquer pareceu mais interessante do que uma pessoa que acompanharia teus passos por toda a eternidade que nós teríamos. E o final feliz que a gente gostaria de acreditar que era pra sempre.
E se você quer saber? Tenho ódio da menininha... ódio ódio e ódio... e de todas as que conseguiram te tocar. Dormir na cama que um dia foi nossa...minha e tua...e delas descobrirem teus segredos....e delas pensarem em tudo aquilo que foi nosso como se fosse delas... e sinto raiva ainda por imaginar que qualquer garota possa segurar a tua mão antes de dormir e te beijar quando você acordar...
Sobre mim?
Eu estou aqui, sabotando qualquer possibilidade de um homem me fazer feliz além do café da tarde.
Estou aqui, enganando o tempo pra ver se ele passa bem rápido e leva meus pretextos todos de chegar perto de você.
E eu continuo assim, esperando uma chance qualquer de te dizer que acabou.
Mas daí eu abro o armário e sinto um frio danado. E vejo que o cachecol que um dia você enrolou no meu pescoço por um simples ato de afeto continua lá e eu só penso em te pedir pra me libertar de qualquer coisa que venha de você.
Segundos depois, a única coisa que consigo pensar, é que você nunca existiu além dos meus sonhos. E então eu não durmo, pra poder te matar.
quarta-feira, maio 20, 2009
[sobre a fragilidade das coisas]
Eis que me vejo aqui novamente no mesmo lugar.
Sem saber em que direção seguir, sem saber pra qual lado o nosso vento vai bater mais forte e levar nossos anseios pra longe junto com todas as mágoas que nos servem o café da manhã.
Quem errou?
Quem foi que disse a palavra errada?
Quem foi que deixou o silencio ser a resposta de tantas coisas?
Qual de nós agora está dormindo mal por ter achado que ir embora e dormir sozinho era mais fácil do que enfrentar tantas dúvidas e medos?
Quantas coisas se perderam entre nós para nos transformar em completos estranhos, que mal sabem trocar um bom dia...
Eu nem sei mais o quanto eu perdi.
Eu nem entendo mais aonde foram parar aquelas coisas bonitas que um dia já dissemos um para o outro.
A primeira vez que tocamos nossas mãos e quando acreditamos que poderíamos as segurar para sempre.
Isso tudo virou poeira que escondemos debaixo de um tapete qualquer.
Nosso castelo de cartas já caiu há tanto tempo.
Essas ruínas ainda devem existir em algum lugar ainda.
É tudo tão frágil.
O monstro do armário continua no mesmo lugar.
O lobo assoprando, tentando derrubar o muro de pedra que eu mesma construí com as mãos.
Não passa de uma lembrança que eu tenho que procurar em mim, as vezes aparece assombrando a casa vazia e me segue em algumas praças.
Eu ainda moro no mesmo lugar. Ainda suspiro antes de dormir. Ainda esfrego meus pés debaixo das cobertas. Ainda deixo o chá esfriar. Corto o queijo bem fininho e nunca acerto o número de colheres do Nescau. Eu ainda levanto da cama com o pé direito e escovo os dentes andando descalça pela casa. Eu ainda durmo no canto da cama, por não saber usar aquele espaço todo. Ainda almoço nos mesmos lugares e misturo as comidas de um jeito irritante. Ainda fumo na janela tentando deixar a chama acesa até chegar no chão.
E eu ainda não sei aonde foi que nós fomos parar.
Ainda não sei.
terça-feira, maio 19, 2009
.assim.
sexta-feira, maio 15, 2009
[A volta]
Meu bem,
Estou escrevendo para te contar que aqui as coisas vão bem.
Hoje mesmo eu pensei em te mandar um postal, ou um beijo no espelho.
De todas as coisas que mudaram por aqui, o clima da capital de pedra continua o mesmo, frio e bonito.
Hoje passei pela rua que te contei em outra correspondencia, ela ainda está do mesmo jeito, até com as mesmas pessoas. Só falta outro par de pés caminhando comigo por ali.
De resto, só restam saudades e algumas outras palavras que eu ainda não encontrei para te dizer.
São tantas coisas que eu tenho para te mostrar, tantas avenidas vazias por aqui.
Tantos carros cinzas, até as árvores estão me imitando, sem flor.
O transito continua infernal, mas não ligo. As minhas ruas são tão tranquilas quanto os caminhos que sempre me levam até você.
De noite faz frio, muito frio. A minha coberta de retalhos coloridos sobre a cama grande não me esquenta tanto assim.
Ah, peguei gripe de novo. Deve ser porque meus pés andam gelados sem os teus quentinhos junto deles.
E as mãos... ah, entre elas sempre há um espaço aonde cabe perfeitamente o seu rosto. As vezes eu me pego com elas abertas no ar, ensaiando para segurar o teu sorriso em mim.
Nas lojas de livros eu ainda passo bastante tempo. Clarice, Pessoa, Machado e Vinícius me fazem companhia.
Os parques não têm mais graça. Os dias bons de verão já se foram, levaram bons amigos e me deixaram grandes saudades.
Eu continuo aqui na contramão, me despedindo dos meus passos, te entregando cartas, sorrindo pela manhã com os distantes "bom dias" que me alegram.
Quero te contar que me faz falta. Quero te dizer que aqui as coisas todas ainda te esperam sorrindo. Quero te abraçar nesta carta e em todas que eu consiga te mandar.
Você sempre vai estar lá e aqui. Eu sempre estarei aqui e lá com você, aonde estiver.
Meu coração vive por aí agora, mas sinto que ele está em boas mãos.
O seu está bem guardado também, ele mandou lembranças e um forte abraço.
Eu ainda estou procurando uma forma de te contar sobre as cores daqui, mas elas são mais bonitas quando você pode enxergar junto.
De qualquer maneira, sinto que elas não desbotam mais como antes, porque sei que não há distancia que me deixe só, não há adeus que me afaste dos nossos sonhos, não há caminho sem a tua lembrança.
Um beijo e um sorriso invisível para você.
B.
quinta-feira, maio 14, 2009
.As coisas importantes da vida.
"um dia após o outro
05/04/09
O Texto acima foi escrito por um dos rapazes que foi morto em um acidente estúpido, envolvendo um Deputado Estadual de 26 anos, que estava a 190km/h numa via de no máximo 60km/h, que literalmente MOEU o carro aonde estavam dois jovens.
Fora todas as histórias mal contadas sobre este acidente, nas quais eu não gostaria de entrar em méritos, porque não cabe a mim julgar, eu realmente fico preocupada quando acontece uma coisa assim, pois poderia ser eu, você que está lendo este texto, nossos irmãos, amigos, primos, voltando pra casa, quando um cara descontrolado no volante, que estava com a carteira suspensa desde junho do ano passado, CENTRO E TRINTA PONTOS de multa na carteira, vem numa velocidade absurda e tira a vida de duas pessoas.
Tira a vida de um cara que escrevia sobre viver, sobre gostar de viver.
Ninguém aqui é santo pra apontar pra outra pessoa, nem quero. Mas eu gostaria que somente por um instante cada um que está lendo este texto pensasse em quantas imprudencias NÓS cometemos, que podem botar a vida de outros em risco.
Que nos colocássemos no lugar destes pais e mães que hoje estão chorando por filhos que não estão mais aqui. Isto é tão absurdo, tão contra a natureza, que quando perdemos os pais somos órfãos, mas não há palavra pra definir um pai que perde um filho.
Pensemos um pouco nos nossos atos, no quanto corremos quando dirigimos, se realmente é necessário pegar o carro depois de encher a cara, se às vezes amar um pouco o próximo e se um tanto de empatia não pouparia tanta desgraça e tristeza.
segunda-feira, maio 11, 2009
[não solta a minha mão]
Bem que eu disse que não havia razão pra não ser.
Eu bem que avisei que seria diferente de tudo o que já foi.
Eu que nem sabia o que estava para acontecer.
Não é.
Eu só queria uma dancinha a dois.
Queria sentir que não era só um.
Mas a distancia marcou nosso fim.
Não achei rima pra fazer nosso som.
Pois é.
Enquanto uma canção já fez mais companhia
A gente esqueceu de dizer que não há mais lugar
Onde aconteça um bom carnaval.
Não há.
E eu já não sei quem foi que começou
Com essa bobagem de se entregar.
Se o final é sempre igual, ensaiando ou não...
Então tá.
quinta-feira, maio 07, 2009
[Você]
Você é o meu silencio.
Meu sorriso invisível.
Minhas falas sem ensaios.
Minha contramão.
Minha presença constante.
Meus versos.
Minha contradição.
Você é meu amanhecer.
Meu colchão.
Minhas mãos.
Meu orgulho.
Meu sonho mesmo sem lembrar.
Minha volta.
Minha chegada.
Meu caminho sem direção.
E eu sei que estará lá.
Mesmo sem a gente saber.
Eu ainda moro em mim pra você.
Por você sempre me achar.
Meu sorriso invisível.
Minhas falas sem ensaios.
Minha contramão.
Minha presença constante.
Meus versos.
Minha contradição.
Você é meu amanhecer.
Meu colchão.
Minhas mãos.
Meu orgulho.
Meu sonho mesmo sem lembrar.
Minha volta.
Minha chegada.
Meu caminho sem direção.
E eu sei que estará lá.
Mesmo sem a gente saber.
Eu ainda moro em mim pra você.
Por você sempre me achar.
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