sexta-feira, junho 01, 2007

Veja bem, meu bem [Texto pra não entender a Bic]

Olho você hoje como se fosse um brinquedo que desejei tanto, mas não funcionava direito. Deixei dentro daquela gaveta de tranqueiras infantis. Às vezes eu vejo ali no meio dos meus devaneios, mas não tenho mais vontade de girar a corda pra ouvir a canção que tocava antes.
Eu era aquela bonequinha que você viu passar, com o vestido mais bonito de baile que já tive. Mas chegou a bailarina, ela dançava sem os pés no chão, ela não te deu a mão, ela não te acompanhou na valsa sem par.
Minha caixinha de músicas tem aquela canção. Aquela toda de fazer chorar. Aquela sem letra, sem ritmo, sem sim, nem não. 
E na parede da casa ainda tem os carrinhos de controle remoto que faziam as tardes de corrida agradáveis, tem os bonequinhos de chumbo sempre longe da bailarina. Agora é do teu controle que eu perdi as pilhas, devo ter colocado em algum outro brinquedo que falava coisas bonitas.
A boneca perdeu os sapatos pelo caminho, a Cinderela fugiu do baile antes de aprender a sorrir. Deu meia-noite, a noite começou no meio da festa, os reis e os bobos rodavam pelo salão. A bonequinha estava lá, você do outro lado. Paralelos são assim mesmo.
O dia sorriu meio tímido. O frio congelou as plantas e a nossa lasanha congelada no freezer.
O café ta pronto, mas o brinquedo ainda dorme. O frio consome, e a cama vazia.
Ninguém pra arrumar a mesa, nem a casa, nem a dor. Os pratos sujos na pia, o horário amarrado aos pés. Caminhando sempre dois passos atrás do tempo, atrasado, tempo perdido. A noite chega outra vez, a gata borralheira esquece de aguar as plantas, se arruma pra ele e sai.
Ele pensa na bailarina, ela torce pra bailarina errar o passo e cair no chão. Os reis e os bobos de volta ao salão, a noite termina embriagada. Ela tira os sapatos de cristal, devolve o bonequinho de chumbo sem coração na gaveta e dorme pra sonhar com aquele que fará a sua valsa ter par.

4 comentários:

Artur Guarnieri disse...

"Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.

Valsinha do Buarque


Se terminar assim, melhor...

Anônimo disse...

posted by Bic Muller at

Juro q dessa vez, eu li

Bic Mullet (bic cabelinhos)

Raquel disse...

muito bonito o texto bique. como eu te disse por msn.. "parece letra de los hermanos".

Cal Castro disse...

nossa heinn
vamos lançar um livro de contos adultoss
ficou perfeitoo
te amuuuuuuuuuuuu