quarta-feira, agosto 01, 2007

Resposta [As cartas perdidas da Bic]


"Escrever cartas de amor sem destinatário. Esperar uma resposta mesmo assim."

É estranho como de repente as coisas que você mais acreditava no mundo desmoronam na sua cabeça. Aos 7 você descobre que Papai Noel não existe, aos 9 descobre que seus pais não têm um casamento tão perfeito como nos desenhos que fazia no colégio, aos 15 descobre que aquele professor por quem você é apaixonada é casado e nunca vai te dar bola, aos 18 você tem certeza que não é tão legal assim ser maior de idade. Aos 20, descobre que os mesmos problemas que você tinha com 7 ainda existem, só que agora são maiores e mais difíceis de se resolver.

As coisas não mudam muito. Mudar as pessoas não é fácil. Mudar a si mesmo é ter que olhar para dentro e ver todos os defeitos e fraquezas que possuímos. É tarefa dolorida e difícil de encarar. Ver que já fez alguém chorar, que já falou sem pensar, que não teve pena do outro e que não soube perdoar.

Somos seres medrosos, é fato. Sentimos medo de nos envolver, temos medo de decepcionar os pais, os filhos, os amigos. Sentimos medo de decepcionar a nós mesmos, chegar ao fim da vida e ver que tudo o que vivemos foi vão e sem sentido. Sentimos medo de ser.

Quem nunca acreditou nas palavras de alguém e depois deu de cara com a porta? Quem nunca achou que um amor era pra sempre levante a mão!
Quem nunca se apaixonou perdidamente por alguém e depois achou aquela pessoa uma mala sem alça? Quem nunca ouviu ou disse "te amo" sem fazer sentido algum aquela frase?

E se, aos 7, acreditávamos que o papai noel existia, é porque ele era real. Em algum momento foi real. Então quer dizer que quando nos iludimos, em algum momento aquilo tudo existiu?
Sim, creio eu. Se somos controlados pela nossa mente, quem somos nós pra julgar as nossas ilusões? Por mais que um amor jamais tenha saído de dentro da sua cabeça, você o criou. É válido e puro da mesma maneira.

O problema é acordar de manhã e ver que nada daquilo era exatamente como pensávamos. Esse "nada" sempre fode. Esse vazio depois da ilusão é o que machuca. Você superestimar seus sentimentos e depois perceber que, assim como o papai noel, eles só estão na nossa mente.

É assim mesmo. Aquele garoto do colégio ainda existe, o papai noel ainda está no shopping tirando fotos com crianças, o professor perfeito ainda é alvo de olhares platonicamente apaixonados das alunas.

E eu continuo dançando com meus pensamentos. Escrevendo cartas que nunca mandei, me decepcionando ao descobrir que o Papai Noel não existe e que o menino bonito da escola nem sabe que meus pensamentos são dele.

3 comentários:

raquel schaedler disse...

ah..eu sou cheia de coisas que nunca saíram da minha cabeça. na verdade esses dias tive um sonho bem engraçado sobre isso. mas esse,depois eu conto, que só conto meus sonhos pros amigos. (uma pira)

beijos!

raquel

Dnn disse...

Hm... parece que o texto foi escrito para mim. Sofri uma grande decepção ontem. Criada assim como o papai noel. Platônica como o amor pela professora.
No mais, é continuar com as cartas destinadas à niguém. Acordar e ver que nada é como pensamos. Mas eu prefiro colocar como "Dormir e ver que nada é como pensamos".
Acho que o acreditar torna muitas coisas reais. Pois a realidade e a ilusão são concepções do cérebro. Por que, uma valeria mais do que a outra?
Acho que se baseia nisso. Essa insistência nossa em acreditar. E mais tarde, tentar resolver essas coisas, bem maiores agora.

Anônimo disse...

quer ouvir uma coisa engraçada...? já vivi isso tudo que vc falou, mas a desvantagem pra mima, aos 20 anos, é que meu 'cara que eu gosto' tem um fake de papai noel no orkut. mas eu queria mto acreditar agora q ele não existe mais. ehehe =)