terça-feira, novembro 25, 2008

[tua]


Minha verdade está mais nua que a tua.
Não há como não se despir antes de se despedir.
Veste tua roupa depois de fazer umas mentiras.
Deixa elas no lençol vazio e vai.
Quais são os nós que nos prendem?
Nós nem somos tão nós dois assim.
Vai, antes que exista começo e fim.
Sai assim e deixa de ser teu
Tudo aquilo o que roubou de mim.

segunda-feira, novembro 24, 2008

[a menor calçada de paris]


Hoje não vou escrever muito sobre mim, mas sim sobre a cena do filme que me fez muito sentido quando eu fiquei deste lado do mundo e outra pessoa partiu. Porém, eu passei a entender como era estar na pele de quem vai.
E como estou indo agora, o Alberge Espanhol tem as falas perfeitas neste momento.

" (...)
Sabia que seria a última vez que nos beijávamos, então pensei no nosso primeiro beijo.
Lembro que foi na Rue d'orchampt.
Não sei por que escolhemos a menor calçada de Paris.
Houve muita coisa entre os dois beijos
Atravessamos muitas ruas juntos.
Muitos trajetos sinuosos.
Para terminar aqui. Hoje. Sem ela.
Acabou nas ruas onde parisienses nunca vão.
Eu era um estrangeiro entre os estrangeiros.
Por que estava lá? Eu não sabia.
Nunca soube por que estava aonde estava. Deve ser típico..."

Esta cena resume muito bem o meu sentimento de agora. Entre tantos beijos, tantas ruas, estarei sozinha. Este é meu momento de seguir pelas calçadas de outros lugares do mundo, sem saber direito o que me leva até lá, mas com o sentimento de que não é mais hora de ficar.

sexta-feira, novembro 14, 2008

[ a posse do eu ]


“Eu” deveria ser a primeira palavra a saltar da boca dos homens.
“Meu” deveria ser a segunda.
O “Teu” deveria ser o “Meu”.
Mas não é!
E “Eu”,
Não sou “Teu”.

Apesar de indivisível “Eu”,
Encontro o “Teu” para somar.
E toda soma se divide.

Há um finito de “Nós” em mim,
Entrelaçados “Eu”.
Carregando o “Meu” que não é “Teu”.
O quão difícil é ser fiel a mim,
O sendo a ti?

Eis o “Seu” lado.
Eis o “Meu” oposto e também.
Veja a soma de nossa possessividade,
E a sombra do outro,
Que reflete em “Nós”.

quarta-feira, novembro 12, 2008

[o coração do homem de lata]



.meu coração quebrou, não consegui colar.
.tatuei então um novo no lugar.

.agora ele sangra fora do meu peito.

"Agora eu sei que eu tenho um coração, porque ele está quebrado." (homem de lata, mágico de oz)

terça-feira, novembro 04, 2008

[Correios em greve]

Eu sei, escrevi tantas cartas pra você e não mandei nenhuma. Ensaiei as falas que eu diria pra você no dia em que te encontrasse, mas nunca mais disse palavra alguma. Deixei meus textos todos pelo chão junto com os pedaços de coisas que lembravam você.
Eu sei, não errei. Meu erro talvez foi ter dado passos largos pra longe de você. Ou ter deixado que a distância de uma calçada atravessasse nós dois.
Entre tantas coisas banais que dissemos, já existiu um "Eu te amo". Foi banal também. Mudei. Mudei o lado da calçada, mudei o cabelo, mudei a cor do meu coração pra um desbotado quase rosa. Pintei as paredes, tingi meus medos, ouvi músicas repetidas vezes e não encontrei uma frase sequer pra te contar o que eu sentia.
Pintei as unhas de vermelho, repiquei o cabelo, fritei nuggets no óleo quente, caminhei pelo centro com as mãos vazias. Tatuei o corpo, escovei os dentes e suspirei antes de dormir.
Esperei cartões postais que nunca chegaram, pendurei quadros nas paredes que eram vazias. Atravessei as noites vazias e você nunca voltou. Talvez nunca tenha ido. Talvez nunca tenha existido além dos meus planos.
Chorei vendo filmes tristes, e em alguns felizes também.
O certo é que a distancia nunca foi maior do que o nosso afastamento. Seja por falta de amor ou por ele ter sido tão banal quanto contar meu dia.
Contei meus dias de par em par pra passar mais rápido. Passaram rápido demais, nem deu tempo de te entregar alguma carta de amor.

segunda-feira, novembro 03, 2008

[.]

Quero as minhas cores todas de volta. Todas elas que foram roubadas.
Caminhando hoje de peito aberto, sangrando um vermelho desbotado. Caminhando rápido demais pra rever todas as coisas que vou deixar pra trás. Todas as ruas que eu não vou mais passar, nem sozinha, nem de mãos dadas.
Me despedindo dos fantasmas da sala de estar. Tirando meu monstro do armário e o colocando na mala, escrevendo minha autobiografia sem as partes que não me cabem mais.
Sem despedidas, nem adeus. Nem perdão, nem pecado algum vai me acompanhar.
Perdi um pedaço de mim nesta estrada. Cavei com os próprios dedos uma pequenina cova aonde ficou o meu coração seco e mudo.
Não levo meus erros. Não levo minhas incertezas. Elas não caberiam na bagagem.
Estou leve. Deixei as calçadas pra trás. Vou lá longe buscar as minhas cores roubadas.
Eu já perdi demais. Quero tudo de volta.
Minhas palavras, meu som, meu gosto menos amargo, quero de volta os meus passos largos, quero acordar de volta.
As coisas que eu perdi estavam dentro de mim, todas. E eu as perdi outra vez. Era um amor meio diferente que eu senti. Quero de volta. Quero tudo. Hoje eu perdi, amanhã eu ganho o mundo.